Reinbaldo Azevedo escreve hoje em seu blog:
"COMO DISTORCER UMA NOTÍCIA DE MODO CARICATURAL"
terça-feira, 23 de março de 2010 | 6:21
Se as editorias da Folha e do grupo Estado que cobrem ações do governo de São Paulo continuarem “isentas” como têm se mostrando, ainda acabarão entregando a edição ao Diretório Nacional do PT. As distorções são gritantes nos dois casos. Mas nada, nada mesmo!, supera o que o que o caderno Cotidiano, da Folha, faz nesta terça-feira. Absurdos existem todos os dias. Mas, desta feita, o exagero assumiu as tintas da caricatura. Direi por quê. Antes, aos fatos.
O governo de São Paulo vai pagar o bônus por desempenho a 209.833 funcionários da Secretaria de Educação — 80% do total. Desses, 176.598 são professores, diretores, supervisores etc. O valor médio do benefício é de R$ 3.121. Esse pagamento é parte do programa em curso no Estado que estabelece metas às escolas e aos profissionais. Compõe um conjunto de medidas que buscam qualificar os professores. Esse valor nada tem a ver com as promoções salariais asseguradas pelo plano de carreira. Trata-se de um pagamento suplementar.
E como é que se chega ao cálculo? Contam, na definição do bônus, o desempenho da escola no Idesp (que avalia a nota dos alunos num exame de português e de matemática e o cumprimento de metas ligadas à redução da repetência e da evasão escolar) e, VEJAM QUE CRIME!, a assiduidade dos professores. NOTEM BEM, EM MAIÚSCULAS: A LEI QUE INSTITUIU O BÔNUS SEMPRE TEVE COMO CRITÉRIO A ASSIDUIDADE. Esses dados estão da reportagem assinada por Ricardo Westin.
E que título mereceu essa reportagem? Este:
“Grevista terá bônus menor, diz Paulo Renato”
Fica parecendo que o secretário resolveu retaliar os grevistas. O que é um benefício óbvio, previsto em lei — com regras claramente definidas —, é noticiado como se fosse uma medida punitiva, embora o próprio texto afirme que a assiduidade está entre os critérios. MAS ESSE NÃO É O MAIOR ESCÂNDALO DA REPORTAGEM NÃO! O governo vai depositar os R$ 655 milhões na conta dos professores na quinta-feira. Este é o bônus pago em 2010 segundo o desempenho de 2009!
E qual é o lead da reportagem da Folha? Este:
No dia em que a greve dos professores da rede estadual de SP entrou na terceira semana, o governo José Serra (PSDB) anunciou ontem um aumento no valor pago em forma de bônus aos salários, mas advertiu que os docentes hoje em greve receberão menos em 2011.
“As faltas [ao trabalho], sem dúvida, influenciarão [o valor do bônus de 2011]“, afirmou o secretário de Estado da Educação, Paulo Renato Souza.
Em vez de tratar do bônus de 2010, o repórter anuncia a obviedade das obviedades sobre… 2011!!! Transformando um benefício numa falsa punição. Ora, se a assiduidade é um dos critérios para definir o bônus, é óbvio que os faltosos da greve de agora - UMA MINORIA EXTREMA - receberão um bônus menor no ano que vem. Pergunto: essa é a notícia? A notícia é que o secretário de Educação, Paulo Renato, anuncia que vai cumprir a lei?
E como é que a Agência Estado noticiou o fato, num texto de Carolina Freitas? Assim:
“Em meio a uma greve de professores e a manifestações que pararam por duas sextas-feiras a Avenida Paulista, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), convocou hoje 300 educadores para o anúncio do pagamento do Bônus por Resultado de 2010, no Palácio dos Bandeirantes.”
Fica parecendo que, não fosse a greve, não haveria bônus (a reportagem da Folha, aliás, incorre no mesmo erro). Ora, o benefício já foi pago no ano passado com base no desempenho de 2007.
A Apeoesp, como vocês presumem, é contra essa forma de benefício, contra o plano de carreira, contra a escola de formação de professores, contra o concurso que seleciona os mais aptos, contra medidas em defesa da assiduidade, contra, contra, contra… A Apeoesp, afinal, é aquele sindicato em que um grupo chama Delúbio Soares para dar palestra… Bem, este braço do PT no sindicalismo, como é óbvio, é contra o… PSDB! E faz uma greve político-partidária. Não é difícil provar. Basta ler o material que serve ao proselitismo grevista.
Como é que uma distorção tão brutal vai parar nos jornais? Bem, tenho levado esse debate aqui há muito tempo. A pauta dos movimentos de esquerda é muito influente na imprensa, como todo mundo sabe. O fato de estarmos a sete meses da eleição presidencial transforma num crime de lesa isenção qualquer notícia que possa ser acusada pelos petistas de favorecer o virtual candidato do PSDB — ainda que ela se atenha apenas aos fatos.
Ou como explicar aquele lead e aquele título da Folha? A única chance de os faltosos da greve não terem um bônus menor no ano que vem é o secretário de educação do ano que vem, que pode nem ser Paulo Renato, mandar a legislação às favas… Quanto à Agência Estado, dizer o quê? Talvez Serra devesse ter pensado:
“Pô, a lei em vigor prevê o pagamento do bônus, mas, já que a turma da Bebel está em greve, então não vou pagar nada agora para não ser mal interpretado”.
E assim caminhamos. Eis a imprensa que os petralhas acusam de ser simpática aos tucanos. O truque deles é bom (para eles): alguns jornalistas e editores fazem de tudo para provar ao tribunal do PT que eles não são tucanos, não! "
Dr. Luiz Arnaldo de Oliveira Lucato
Vice-Presidente
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