O Egito e a imprensa brasileira.
(o texto é longo mas vale a pena)
A imprensa brasileira se iludiu, e iludiu os brasileiros.
Arnaldo Jabor ainda insiste em afirmar que a revolução no Egito é uma manifestação popular que se iniciou pela internet - facebook, msn e outros sites.... Besteira! O grupo terrorista Hezboalah acaba de se pronunciar. Vejam aí, no Estadão on-line:
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O secretário-geral do grupo xiita Hezbollah, o xeque Hassan Nasrallah, disse hoje que o levante popular no Egito irá mudar o Oriente Médio porque significará o fim de um regime que manteve a paz com Israel. Segundo ele, qualquer liderança que acabe emergindo no Egito, após o presidente Hosni Mubarak, se afastará de Israel, deixando o Estado judeu ainda mais isolado. Além do Egito, o único outro país árabe que possui um tratado formal de paz com Israel é a Jordânia. O Egito foi o primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com Israel, em 1979, e, desde então, o acordo foi escrupulosamente respeitado. No discurso, Nasrallah questionou se os árabes querem ficar “ao lado de Israel, que deseja proteger esse regime (Mubarak), ou com a revolução que quer derrubá-lo”. As informações são da Associated Press.
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Também não é sem razão que o governo Egípcio vem negociando a transição política com a Irmandade Munçulmana, maior grupo oposicionista do Egito. A Irmandade Muçulmana exige uma reforma constitucional que leve a eleições livres e limpas, limite a quantidade de mandatos presidenciais, dissolva o Parlamento, permita a libertação de presos políticos e suspenda a lei de emergência. Seria maravilhoso...., mas este grupo oposicionista possui relações estreitas com o Hamas (embora afirmem que tenham abandonado as armas), hoje o mais violento grupo terrorista radical islâmico, e que domina a Faixa de Gaza.
Eleições livres e limpas? Sei! E uma vez no poder certamente eles não mais precisarão disso, certo?
Se o Hezbollah diz a verdade, e acredito que diga, o acordo de paz com Israel será quebrado.
São os terrositas a assumir o poder político de um país? Pode ser! As possibilidade de que isso aconteça são enormes, ao contrário do que diz, de forma até ingênua, grande parte da imprensa brasileira. Certo Arnaldo Jabor?
Quem quiser se aprofundar um pouco mais na questão pode procurar "Sobre o Islã", livro de Ali Kamel, ou alguams resenhas disponíveis na internet. É importante para entender a questão egípcia.
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(...) a Irmandade Muçulmana, criada pelo egípcio Hassan al-Banna, um filho de relojoeiro (…). Ele não pronunciou a frase, mas é como se a tivesse dito. Seu lema bem poderia ser: “Muçulmanos de todo o mundo, uni-vos”. Para ele, a divisão do Islã em nações era essencialmente antiislâmica. Todas deveriam estar unidas sob um só califa. Ganhou as massas no Egito. Ele tinha uma idéia clara sobre o Ocidente: “Todos os prazeres trazidos pela civilização contemporânea não resultarão em nada senão em dor. Uma dor que vai superar seus atrativos e remover a sua doçura. Portanto, evite os aspectos mundanos desse povo; não deixe que eles tenham poder sobre você e o enganem“. Em 1945, a Irmandade adere à violência e ao terror. Tinha 500 mil militantes e o dobro de simpatizantes. Criava escolas, hospitais, fábricas…
É Al-Banna quem muda o sentido da palavra “Jihad” - esforço. A “Jihad Maior”, originalmente, é o esforço interno que faz o crente para não fugir dos princípios da religião. A “Menor” é a luta DEFENSIVA contra o infiel. Não para ele, que passa a encará-la como uma luta pela restauração do que considera a verdadeira religião, recorrendo, sim, à violência também contra um governo islâmico se necessário. O lema da Irmandade, desde sempre, foi este: “Preparem-se para a Jihad e sejam amantes da morte”.
Al-Banna foi assassinado pelos agentes secretos do governo egípcio e foi substituído, no comando, pelo “Lênin” da turma: Sayyd Qutb. Era formado em educação e foi enviado pelo governo egípcio para conhecer os EUA: Nova York, Washington, Colorado e Califórnia. Ele odiou tudo o que viu e só enxergou decadência - até o hábito de aparar a grama lhe parecia prova cabal de futilidade. Se Al-Banna aceitava a violência para o propósito de unir os muçulmanos num só califado, seu sucessor foi mais longe: era preciso converter também, e pelos mesmos métodos, o mundo não-islâmico.
Sayyd Qutb é autor de passagens perturbadoras (...): “O Islã não obriga ninguém a aceitar sua fé, mas pretende oferecer um ambiente de liberdade no qual todos possam escolher suas próprias crenças. O que pretende é abolir os sistemas políticos opressores sob os quais as pessoas não têm o direito de expressar sua liberdade de escolher em que acreditar, dando-lhes assim plena liberdade para decidir se querem ou não aceitar os princípios do Islã.” Sem tirar nem pôr, é o que pensa um esquerdista do miolo mole. O socialismo, como o Islã (esse de Qutb), é a plena liberdade. E só não vê quem está submetido a alguma forma de opressão que o leva a ter uma falsa consciência, ditada pela ideologia burguesa. Combatida essa ideologia - que vem a ser o “Mal” -, então a pessoa é livre pode escolher: para os esquerdistas, ela escolhe o socialismo; para Qutb, o “seu” Islã. E se não escolhe? Então é porque ainda não está livre. Vejam só. Kamel está mesmo certo: o terrorismo islâmico é um totalitarismo - a exemplo do nazismo e do socialismo.
No livro, Kamel explica como esse ambiente da Irmandade Muçulmana acabou resultando na Al-Qaeda de Osama Bin Laden, não sem o concurso, evidentemente, de fatos históricos, digamos, facilitadores para a emergência do moderno terrorismo islâmico, como a invasão do Afeganistão pela União Soviética, o apoio dado pelo Ocidente à resistência - organizada por extremistas - , o sectarismo religioso da Arábia Saudita e a primeira guerra do Iraque, que vai opor Bin Laden ao governo saudita… (…)
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Entenderam a delicadeza do problema e a razão da preocupação do mundo todo com a questão egípcia?
Pois é.... o problema é muito mais complexo que o tratamento dado pela imprensa brasileira. Não por má-fé, não!
Mas por falta de estudo e entendimento mesmo!
Dr. Luiz Arnaldo de Oliveira Lucato
Vice-Presidente
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