terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Anvisa decide ser o pai-patrão dos gordos que querem emagrecer.

A Anvisa decide ser o pai-patrão dos gordos que querem emagrecer. Ou: Governo acaba de criar um novo tráfico de drogas



Por Reinaldo Azevedo. Veja on-line.

Eu sei que pode parecer aborrecido, mas o que é que eu vou fazer se eles são quem são e se eu sou quem sou? O que é que eu vou fazer se eles querem meter o nariz — e, se deixarmos, as quatro patas também — onde não são chamados e se eu pretendo que eles não o façam? A vida é assim. A patrulha energúmena e mamadeira quer calar a crítica no país. Não vai. Por que isso? Desde que “eles”, vocês sabem quem, chegaram ao poder, a Anvisa pretende ser mais uma Agência de Moral e Civismo Petralha do que propriamente uma Agência de Vigilância Sanitária.

Os valentes já andaram fazendo “estudos”para proibir até a propaganda de biscoitos e de refrigerante… Assim como a ministra Iriny (Ira-ny) Lopes (da tribo dos Cavaleiros que dizem “ny” — essa é só para quem manja Monty Python) quer tirar do ar propaganda de calcinha e sutiã que esteja em desacordo com a moral companheira, a Anvisa quer salvar as criancinhas, quer salvar os gordinhos, quer salvar a humanidade… Leiam reportagem da VEJA Online. Volto em seguida.


Por Luciana Marques:
A diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu nesta terça-feira proibir a venda de parte dos medicamentos inibidores de apetite no país. Deverão ser retirados do mercado os derivados da anfetamina (femproporex, anfepramona e mazindol), geralmente usados no tratamento da obesidade. Os remédios terão os registros cancelados e deverão ser retirados das farmácias em sessenta dias, para que os pacientes tenham os tratamentos reavaliados pelos médicos. O órgão manteve, em contrapartida, a permissão da venda da sibutramina. Para isso, será necessária a ampliação do controle, com a apresentação, por exemplo, de um termo de informação sobre eficácia e segurança do medicamento, assinado pelo médico e paciente. Existem estudos que indicam que a sibutramina pode aumentar o risco de problemas cardíacos em pacientes com fatores de risco. A decisão sobre as anfetaminas foi unânime: os quatro diretores votaram contra a manutenção da venda dos medicamentos. Já em relação à sibutramina, apenas o diretor José Agenor da Silva defendeu sua proibição.

O diretor-presidente do órgão, Dirceu Barbano, defendeu o fim das anfetaminas, argumentando que elas causam riscos à saúde e que não há comprovação científica de sua eficácia. “Evidências de eventos adversos graves, associados à ausência de comprovação de eficácia e segurança permitem avaliação dos riscos do uso dessas substâncias no tratamento da obesidade”, declarou. Segundo o diretor, os medicamentos são consumidos de forma “indiscriminada” no Brasil há trinta anos. Barbano defendeu o uso da sibutramina em obesos sem histórico de doenças cardiovasculares, pacientes com diabetes e mulheres com ovários policísticos. “Um plano adequado de minimização de riscos pode permitir utilização com mais segurança”, afirmou. (continue lendo a reportagem)

Controvérsia - A discussão sobre o tema começou em fevereiro, quando a agência manifestou a intenção de excluir os emagrecedores no tratamento de pessoas obesas, por exemplo. Isso depois que a Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme) emitiu um parecer defendendo a proibição da venda de todos os emagrecedores, incluindo a sibutramina. O órgão entende que os remédios trazem mais riscos do que benefícios à saúde. A forte reação da classe médica fez com que fosse convocada um painel científico em Brasília, na metade de junho, com médicos e até com a presença do cardiologista norueguês Christian Torp-Pedersen, integrante do comitê independente que realizou o estudo Scout, sobre os efeitos da sibutramina em pacientes obesos. Foi com base neste estudo que a Anvisa propôs a proibição dos emagrecedores. Durante o encontro, Pedersen disse ao site de VEJA ser contra o fim da comercialização da sibutramina.

Parte da classe médica é contra a proibição dos medicamentos, porque ficaria sem opção para o tratamento de pacientes com distúrbios alimentares. O Conselho Federal de Medicina (CFM) defendeu o aumento da fiscalização da venda dos emagrecedores, mas apelou para que eles continuem no mercado. Em março deste ano, a ONU divulgou um relatório defendendo o uso dos inibidores de apetite no combate à obesidade, mas recomendou controle sobre a venda e prescrição da droga. Em agosto, a Anvisa adiou a votação sobre o caso diante da ausência de um diretores e porque a reunião não havia sido realizada em sessão pública.

Comento
Já cheguei a pesar 120 kg, Hoje, peso 79. Não tomei inibidores de apetite ou fiz qualquer cirurgia. Descobri que posso pesar 50% a mais do que peso hoje se me descuidar: se comer toda comida que quero, se beber todo o uísque que quero, se tomar todo sorvete que quero… Não vivo sob nenhuma tensão permanente, sofrendo, me martirizando, nada. Apenas não faço tudo o que me dá na telha nessa área — a exemplo de todo mundo, não o faço em área nenhuma. Vale a lógica que regula a vida: caminhando sobre a linha que distingue o prazer do dever: ora mais pra cá, quando estou na praia, descansando, ora mais pra lá, quando estamos aqui, comentando coisas desta vida besta (se bem que eu me divirto muito aqui, tenho de reconhecer).

Pois é. Emagreci 40 quilos em menos de dois anos, só cortando excessos. Tive a tarefa facilitada porque, de fato, gosto de verduras, legumes, peixe e não estou entre os fascinados por pães, massas etc. Mas há quem verdadeiramente precise de ajuda. E não há terapia que dê jeito. Os especialistas conhecem muito bem a rotina de quem sofre para emagrecer sem conseguir: a auto-estima vai pro brejo, o processo gera ansiedade, a ansiedade leva à comida, que engorda, o que baixa mais a auto-estima etc. Isso, é bom notar, sem descartar milhões de pessoas que são felizes sendo como são: gordas. Eu era muito feliz com 120 e tinha, como tenho, índices ótimos de colesterol e açúcar. Os meus tendões é que começaram a reclamar. O excesso de peso acarreta um monte de problemas para a saúde. O único inconveniente, hoje, é que eu tinha um pressão arterial de 12 por 7 pesando aquilo tudo; com quarenta quilos a menos, é de 10 por 6. Se o dia está muito quente, tende a cair, e a sensação não é tão boa. Meu médico, em todo caso, me pergunta: “Quer trocar?”


É provável, sim, que haja uma venda indiscriminada, sem controle, de inibidores de apetite. E um dos papéis da Anvisa — uma agência de vigilância — é, se me permitem a tautologia, vigiar. Mas não! Contra a opinião de boa parte dos médicos brasileiros e de recomendação das Nações Unidas, opta-se simplesmente pela proibição. Ou por outra: porque não consegue cumprir a sua missão, então faz o mais fácil. O que a Anvisa está dizendo? Que não se pode fazer um uso responsável desses medicamentos? Trata-se de uma decisão burra, contraproducente, QUE VAI GERAR O EFEITO CONTRÁRIO ÀQUELE PRETENDIDO.

Estupidez
Será que não ocorreu aos doutores — não, não ocorreu!!! — QUE A DECISÃO ESTÁ É JOGANDO NA ILEGALIDADE QUEM VINHA FAZENDO USO LEGAL E CONTROLADO DOS REMÉDIOS SEM, NO ENTANTO, COIBIR O CONSUMO CLANDESTINO? Há uma similaridade entre essa burrice e aquela que queria proibir a, ATENÇÃO!, “venda legal de armas”. Ora, a venda legal nunca foi um problema; o problema era a ilegal. Da mesma sorte, o tratamento legal com inibidores de apetite representava baixo risco (todo remédio tem algum efeito colateral); a questão é o ilegal, que ilegal vai continuar.

Estado-patrão
Essa decisão faz parte de uma cultura: a da hipertrofia do estado, que se mete em tudo. Com o declarado — e, assim fosse, meritório — objetivo de combater o abuso no uso de anfetaminas para o emagrecimento, tira-se do indivíduo o direito de tomar decisões sobre o próprio destino. A Anvisa, em última instância, quer decidir se a pessoa tem ou não o direito de decidir ela própria se quer emagrecer ou não.

A Anvisa, um dos órgãos mais aparelhados da República, está disposta a cuidar menos da saúde dos brasileiros do que a ser seu guia espiritual. O órgão determinou que é moralmente incorreto emagrecer com o uso de anfetaminas, ainda que muitas pessoas — doentes que precisam desse remédio — não tenham outra saída.

Resta a médicos e pacientes que não queiram optar pela clandestinidade o caminho da Justiça. Na prática, a Anvisa acaba de criar um novo tráfico de drogas.



Dr. Luiz Arnaldo de Oliveira Lucato
Vice-Presidente

Nenhum comentário:

Postar um comentário